As duas realidades jamais devem andar distantes uma da outra, como se fossem antagônicas, inarmonizáveis ou incompatíveis entre si. As Escrituras Sagradas tanto nos exortam a crer em Cristo, luz suprema que bane as trevas do pecado em nossa vida, como a refletir, em nosso viver diário, essa tão maravilhosa luz. Tanto é assim que o próprio Senhor e Salvador Jesus Cristo afirmou que a nossa luz, derivada dEle, deveria resplandecer entre os homens a fim de que, contemplando-as, eles pudessem glorificar ao Pai que, soberano, reina nos céus.
Luz essa traduzida em obras palpáveis, visíveis e reveladoras de um viver verdadeiramente transformado pelo poder de Deus. Na epístola endereçada aos irmãos da igreja de Colossos, não foi outro o raciocínio empreendido pelo apóstolo Paulo, daí as incisivas palavras que proferiu: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele” (Colossenses 2.6).
Em sua primeira epístola, João ratifica verdade espiritual tão sublime: “aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar como ele andou” (1 João 2.6). O ponto doutrinário seminal subjacente a esses versículos é um só: crença correta e vida correta são almas gêmeas, faces indissociáveis de uma experiência espiritual genuína e verdadeiramente procedente de Deus.
Crença correta sem vida correta é hipocrisia rematada; mente abarrotada de conteúdos verdadeiros, por um lado, e coração frio e que não bate no compasso de Deus, por outro. Ortodoxia, apenas, vezes sem conta, descamba para o racionalismo árido, soberbo, morto e infértil. Ortopraxia, apenas, vira ativismo desenfreado; ação sem base reflexiva sólida; cegueira institucionalizada. Mantê-las unidas, tal como a Palavra as apresenta, é imperioso dever de quem, no poder do Espírito Santo, anela por um cristianismo puro e simples, como diria C. S. Lewis.
A união equilibrada de ortodoxia e ortopraxia nos inclinará para uma espiritualidade que conjugará leitura da Palavra com um vida de oração intensa e devotada. Conjugará apreço pelo estudo teológico com um coração pastoral afetuoso, capaz do gesto terno do abraço, do sorriso acolhedor, da palavra temperada com a graça, da disposição de andar a segunda milha, do amor vivo para com todos, sem o qual jamais o mundo nos identificará como discípulos autênticos do Filho de Deus.
A ortodoxia nos fará amar o santo livro de Deus; e a ortopraxia nos fará buscar em Deus, no gracioso poder do seu Santo Espírito, a capacitação para vivermos à altura da grandiosa salvação que nos alcançou em Cristo Jesus. A ortodoxia nos inclinará para compreendermos, bíblico-teologicamente, as marcas sinalizadoras de uma igreja verdadeira; e a ortopraxia fará com que anelemos por viver como uma verdadeira igreja: amando os pecadores e os evangelizando com a pregação e a vida; amando os irmãos e suportando-os uns aos outros, do mesmo modo que, em Cristo, Deus suporta os nossos pecados e nos acolhe como filhos amados.
Na epístola aos Gálatas, por exemplo, ao mesmo tempo em que, ortodamente, o apóstolo Paulo exortou aquela comunidade a se voltar para o simples e suficiente evangelho da graça de Deus, superlativamente manifestada em Jesus Cristo, ortopraxicamente, os impeliu a uma vida frutífera, impregnada da excelência de virtudes tão sublimes, tais como: amor, alegria, paz, bondade, benignidade, longaniminidade, mansidão, temperança e fidelidade, expressões sinalizadoras de um coração genuinamente regenerado e, por isso mesmo, espelhador do caráter santo do Deus operador de milagre tão extraordinário. Que Deus dê-nos a graça de não transigirmos com o erro doutrinário, que corrompe as consciências e desfigura a fé; mas que, de igual modo, evidenciemos, em nossa travessia espiritual cotidiana, uma progressiva compatibilização entre aquilo em que cremos e a nossa conduta no mundo.
Como afirmou Paul Washer, numa das suas contundentes pregações, quando desacompanhada de sinais autenticadores de um genuíno encontro com Jesus Cristo, nossa profissão de fé tem o mesmo valor e consistência de um risco sulcado no dorso das águas, isto é, nenhum. Sejamos, pois, consistentes em nossa confessionalidade (ortodoxia), mas o sejamos, também, em nossa ortopraxia. Desse conúbio emergirá, altaneira, a glória de Deus, teleologia suprema do universo. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ MÁRIO DA SILVA
Presbítero da Igreja Presbiteirana DE campina Grande
Quem sou eu
- Pr. Jevison Sta. Cruz
- Recife, Pernambuco, Brazil
- Pastor na Igreja Batista Viva Yahweh Shammah - sede - Bomba do Hemetério - Recife-PE - Casado com Tatiana Santa Cruz e pai de Stefany Victória e Sophia Victória. "Instruir o povo na adoração a Deus e viver a simplicidade do Evangelho de Jesus Cristo é a missão que me foi confiada".
terça-feira, 17 de maio de 2011
Ortodoxia e Ortopraxia
Comecemos a meditação de hoje por uma espécie de inapelável sentença: ortodoxia sem ortopraxia é um roteiro mais do que seguro para alguém tornar-se censurável diante de Deus. Antes de desenvolver o argumento, precisemos os termos. Ortodoxia, em linhas gerais, significa doutrina correta, inteiramente harmonizada com o padrão exponenciado pelas Escrituras Sagradas. A ortopraxia, por sua vez, ancora-se numa vida correta; num viver prático em sintonia com o que é preceituado pela Palavra de Deus.
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